domingo, fevereiro 11, 2007

O perdido

Joelhos dobrados, doloridos apertados no peito. Nem me lembro mais quanto tempo fiquei assim. E eu que nunca fui medroso agora sinto tanto medo. Também nunca fui muito corajoso, só o suficiente, pra sobreviver, viver e ser. Me lembro bem de olhar o medo e dele esquivar, como se fôsse nada mais do que algo mais, além da minh'alma, longe dos meus olhos e longe de mim.
Sempre tive o meu caminho, sempre soube o que fazer. E entretanto cá estou, há mais de 5 horas nessa posição, balançando quando minhas pernas dormem, ou quando o desconforto de ficar sentado é muito grande.
Nunca me perdi pois nunca cedi, via as coisas ruins da vida e seguia sempre com as minhas. Não as ideais, mas decerto as melhores que eu conseguia conquistar. Não fui o melhor de todos, mas era um dos bons, daqueles que não brilham muito, mas se sente falta quando some.
E apesar disso, não sentem mais falta de mim. Muitos diziam de mim gostar, mas também, sempre pra mim nada parecia mais do que um olá diferente, algo mais atraente, reluzente, mas eu sempre fui descrente.
Acreditava comigo mesmo ser talvez inseguro demais, ou desacostumado mesmo com tais palavras.
Eu que via as coisas ruins do mundo e nada fazia. Talvez eu pensasse comigo mesmo "É, tudo mentira, não que sejam mentirosos eles, talvez pra eles seja verdade. Mas verdade verdade não é, afinal, eu que vejo tanta coisa, em teoria sou tantas outras. E ainda assim nada faço. Não dá pra acreditar, isso é um fato.".
É, penso demais, repenso, desgasto e dispenso.
Mais um dos erros, não doces, mas sim nojentos. Não asqueirosos, mas indesejáveis contudo toleráveis.
Afinal, todo mundo erra.
Mas eu não era assim, me lembro dos dias de infância. Meu pai me dizendo ter fé em mim, tinha muitos amigos, podia se dizer popular, mas o melhor de tudo. Era que eu não ligava, e isso muda tudo. Popular ? Pensava eu, nada, tenho bons amigos e muitos deles, quero mais é brincar e aprender.
Tomei boas ações quando criança, segui um bom caminho, mas desandei, me contive e disformei.
Cometi muitos erros, mas bem, todo mundo comete erros né ?
Eu não matei ninguém, ou matei ? Eu não roubei ninguém, ou roubei ? Eu não enganei ninguém, ou enganei ?
Ah, então são errros perdoáveis, louváveis até, sempre fui o bonzinho, o sem erros e com desapegos.
Aquele que não pedia demais, pedia de menos. Aquele que queria demais, e fala de menos.
Aí então eu pergunto, onde eu me perdi então ?
Aqui a 6 horas balançando pra lá e pra cá, sem saber pra onde seguir, e ainda assim continuo andando. Parte de mim me diz que isso devia dizer a mim mesmo, que apesar de tudo, eu não desisto, persisto. Mas eu bem sei ser besteira. E o outro também sabe, ele só anda porque cansou das câimbras. E eu só aguento por ter paciência talvez, não não, apatia, isso mesmo.
Andando então olhando ao céu, tantos outros na minha frente. Em parte me julgo melhor, em parte me acho ridículo, em parte me acho egocêntrico, cheio de mim, em parte sei que sou algo, em parte sei que não sou nada. E então, quem sou eu ?
Sou aquele que se perdeu por dentre de si. Não me perdi na rua, avenida, mata, mar, céu ou terra.
Perdi onde menos podia, onde menos deveria. E agora quem sou eu ? Senão aquele que procura ?
Nada mais... nada mais...

Vê só, até o rumo desse pensamento eu perdi, e eu, que nunca fui deficiente agora sou mais do que isso, sou ausente de mim mesmo. Me perco por dentre desejos e anseios. Nunca quis ser egocêntrico, entretanto cá estou, discutindo a mim mesmo, eu que nunca fui egocêntrico, me perdi, dentro de mim.

E quem vai me salvar de mim mesmo ?

Isso mesmo, eu mesmo me salvo e me perco, mais uma vez e outra vez e outra vez e outra vez...

5 Comments:

At domingo, fevereiro 11, 2007 2:42:00 PM, Anonymous Anônimo said...

*pensando*
eh...
nao sei se foi um dos melhores escritos seus, ou se meu estado de espirito influencia nessa "avaliaçao", mas confesso que estou satisfeita e orgulhosa por esse.

Pra vc ver, nem pareceu tao grande qto eu imaginava.

quem vai me salvar de mim mesmo?
é incrivel, mas mtas vezes vc nao é o unico nesse mundo q se perdeu assim.

Incrivel como vc escreve.
Otimo, di.
otimo.
e nao digo como amiga.
digo como pessoa q conseguiu captar (creio eu) o q vc escreveu, de tao bem o diz.
se nao captei, alguma coisa vc passou conseguiu dizer um pouco.
até o rumo desse pensamento eu perdi, mas nisso eu sou deficiente.
rsrs
=)

 
At domingo, fevereiro 11, 2007 2:54:00 PM, Anonymous Anônimo said...

creio q muitos tb se enxergam em algumas coisas
Também nunca fui muito corajosa, só o suficiente, pra sobreviver, viver e ser
Eu não matei ninguém, ou matei ? Eu não roubei ninguém, ou roubei ? Eu não enganei ninguém, ou enganei ?
Aí então eu pergunto, onde eu me perdi então ?
cheio de mim, em parte sei que sou algo, em parte sei que não sou nada. E então, quem sou eu ?
eu mesmo me salvo e me perco, mais uma vez e outra vez e outra vez e outra vez...

 
At domingo, fevereiro 11, 2007 3:32:00 PM, Blogger Bacellar said...

Como disse a Li, incrível como você escreve bem.

Mas acalma-te, se perder na imensidão de seu universo particular é coisa normal para nós, os pensadores, os filósofos que pensam mais do que vivem. Um dia, certamente, alguém te dirá para não ser tão introvertido, mas não dê bola.
Pode ser que você acabe desenvolvendo algum transtorno, como o esquizóide, o esquizotípico... ou quem sabe até mesmo uma esquizofrenia? Mas todos esses nomes não significam absolutamente nada. Continue a se perder dentro de si, pois é daí que saem as suas pérolas idiossincráticas, suas reflexões próprias e suas opiniões particulares. É nisso que você se diferencia da maioria, meu caro.

 
At domingo, fevereiro 11, 2007 9:31:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Você conseguiu fazer aquilo que eu sugeri naquele dia. E fez bem melhor do que eu pensava.

Conflitos internos...
eu geralmente tenho mais conflitos com o mundo do que comigo mesma, mas os que você tem são os que mais nos transforma e fortifica.

Afinal, como dizia Fernando Pessoa:
"A realidade, é sempre mais ou menos, do que nós queremos. Só nós somos sempre iguais a nós-próprios."

=)
Beijo Di!

 
At terça-feira, fevereiro 13, 2007 10:32:00 AM, Blogger Daniela Yoko Taminato said...

Texto atual???
Que surpresa! E um dos melhores, senão O melhor.
Ausente de mim mesmo...

Isso é do Diego? Pergunto porque eu escrevo em primeira pessoa, mas não sou eu quem digo. Maioria das vezes são amigos meus... me inspiro em pessoas que conheço e tento escrever dentro de sua ótica em situações que eles se encontram. No fim das contas é Daniela que escreve, mas não é SOBRE o q a Daniela está sentindo no momento. Às vezes é...

Um beeeijo e parabéns!

 

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