terça-feira, fevereiro 20, 2007

Dias de buquê
(Diego Santos - 12/06/05)

Pegarei pois uma flor nesse jardim de girassóis
Juntarei com mais flores de margaridas, rosas e orquídeas
Montarei um buquê de belas flores, que dará prazer aqueles que as cores olhar
E então procurarei a quem esta buquê devo dar

Cesso a caminhada por entre a selva de pedra
Lembro-me e sinto que não devo dar este buquê a ela
Não porque ela não o mereça, porque este porquê não tem relevância
Mas sim porque o buquê de hoje, ela já recebeu

Companheira contrariada mas ainda companheira ela se fez
Ligada de modo fraco a um coração que pede amarras fortes
Abraçada com força devolve menos carinho
Olhada com admiração, devolve olhar amigo

Fadada ao fim está esta união, qual é esta ainda se discute
Sentimentos se confundem, se contém, se anunciam, são negados, são aceitos
Neste dia se firma de forma errada, uma união disforme, daqueles que deviam estar separados
E os que estão separados, hão de estagnar, esperando o dia passar, a energia mágica se dissipar

Sem temer mal algum, pois todo dia é dia de entregar buquê
Todo dia é dia de comunhão de sentimentos
Todo dia é dia dos enamorados
Todo dia é dia válido para tentar, e toda energia como cíclica, volta
Tornando eterno os dias de buquê, anulando o tempo que tudo se esvai

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Metapoesia
(Diego Santos - 10/02/2007)

Ah poesia disforme que me vem.
Antes fosse tu o velho grito liberado.
De dentro de mim que é de onde vem.
Se tornaste agora pernoite lapidado.
Vens sempre senão ao acaso.
Fazes de mim prisioneiro contrariado.

Eu que descobri e aprendi o ditado.
Agora dele não me largo, não desfaço.
Sou pregado e amarrado.
Controlado.
Subjulgado.

Quero é ser livre, aprender o passo.
Tornar ele escolha e não mais um laço.
Daqueles que me amarram com força de mil braços.

Ser então maestro de minha alma.
Inscrita com essas rimas falhas.
Descrita com palavras raras.

domingo, fevereiro 11, 2007

O perdido

Joelhos dobrados, doloridos apertados no peito. Nem me lembro mais quanto tempo fiquei assim. E eu que nunca fui medroso agora sinto tanto medo. Também nunca fui muito corajoso, só o suficiente, pra sobreviver, viver e ser. Me lembro bem de olhar o medo e dele esquivar, como se fôsse nada mais do que algo mais, além da minh'alma, longe dos meus olhos e longe de mim.
Sempre tive o meu caminho, sempre soube o que fazer. E entretanto cá estou, há mais de 5 horas nessa posição, balançando quando minhas pernas dormem, ou quando o desconforto de ficar sentado é muito grande.
Nunca me perdi pois nunca cedi, via as coisas ruins da vida e seguia sempre com as minhas. Não as ideais, mas decerto as melhores que eu conseguia conquistar. Não fui o melhor de todos, mas era um dos bons, daqueles que não brilham muito, mas se sente falta quando some.
E apesar disso, não sentem mais falta de mim. Muitos diziam de mim gostar, mas também, sempre pra mim nada parecia mais do que um olá diferente, algo mais atraente, reluzente, mas eu sempre fui descrente.
Acreditava comigo mesmo ser talvez inseguro demais, ou desacostumado mesmo com tais palavras.
Eu que via as coisas ruins do mundo e nada fazia. Talvez eu pensasse comigo mesmo "É, tudo mentira, não que sejam mentirosos eles, talvez pra eles seja verdade. Mas verdade verdade não é, afinal, eu que vejo tanta coisa, em teoria sou tantas outras. E ainda assim nada faço. Não dá pra acreditar, isso é um fato.".
É, penso demais, repenso, desgasto e dispenso.
Mais um dos erros, não doces, mas sim nojentos. Não asqueirosos, mas indesejáveis contudo toleráveis.
Afinal, todo mundo erra.
Mas eu não era assim, me lembro dos dias de infância. Meu pai me dizendo ter fé em mim, tinha muitos amigos, podia se dizer popular, mas o melhor de tudo. Era que eu não ligava, e isso muda tudo. Popular ? Pensava eu, nada, tenho bons amigos e muitos deles, quero mais é brincar e aprender.
Tomei boas ações quando criança, segui um bom caminho, mas desandei, me contive e disformei.
Cometi muitos erros, mas bem, todo mundo comete erros né ?
Eu não matei ninguém, ou matei ? Eu não roubei ninguém, ou roubei ? Eu não enganei ninguém, ou enganei ?
Ah, então são errros perdoáveis, louváveis até, sempre fui o bonzinho, o sem erros e com desapegos.
Aquele que não pedia demais, pedia de menos. Aquele que queria demais, e fala de menos.
Aí então eu pergunto, onde eu me perdi então ?
Aqui a 6 horas balançando pra lá e pra cá, sem saber pra onde seguir, e ainda assim continuo andando. Parte de mim me diz que isso devia dizer a mim mesmo, que apesar de tudo, eu não desisto, persisto. Mas eu bem sei ser besteira. E o outro também sabe, ele só anda porque cansou das câimbras. E eu só aguento por ter paciência talvez, não não, apatia, isso mesmo.
Andando então olhando ao céu, tantos outros na minha frente. Em parte me julgo melhor, em parte me acho ridículo, em parte me acho egocêntrico, cheio de mim, em parte sei que sou algo, em parte sei que não sou nada. E então, quem sou eu ?
Sou aquele que se perdeu por dentre de si. Não me perdi na rua, avenida, mata, mar, céu ou terra.
Perdi onde menos podia, onde menos deveria. E agora quem sou eu ? Senão aquele que procura ?
Nada mais... nada mais...

Vê só, até o rumo desse pensamento eu perdi, e eu, que nunca fui deficiente agora sou mais do que isso, sou ausente de mim mesmo. Me perco por dentre desejos e anseios. Nunca quis ser egocêntrico, entretanto cá estou, discutindo a mim mesmo, eu que nunca fui egocêntrico, me perdi, dentro de mim.

E quem vai me salvar de mim mesmo ?

Isso mesmo, eu mesmo me salvo e me perco, mais uma vez e outra vez e outra vez e outra vez...

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Fulgor espiritual
(Diego Santos - 12/06/05)

Por breves momentos se faz livre o espírito
Suspiros, olhares, toques demorados ao passar um objeto
Por pequenas lacunas se mostra a união
Dois corações batem juntos, duas mentes pensam juntos, dois espíritos transcendem a barreira

Livre mesmo que por instantes, encaram a liberdade como eterna
Juras são feitas, certezas surgem, conclusões são tiradas
Quase não há mais peito para segurar o coração que palpita com a força de 100 dias
Largo sorriso é mostrado, várias, e várias vezes

Longos momentos acompanham a energia que brota do olhar
Reage então o resto do corpo, causando leve desconforto
Desconforto procurado, e enfim encontrado
Horas passam, palavras são trocadas, sorrisos evidenciam, toques materializam
Mas ainda assim nada é concreto, tudo foge, tudo se esvai

No momento em que se separam, por meio de portas, ruas, bairros, pessoas
Tudo aquilo é lembrado, marcado na memória não é esquecido
Um espera, o outro espera, um tem esperança o outro também, um luta e o outro não
Ninguém vence sozinho, todos precisam de alguém, de ajuda

Indiferença, tudo que passa pelas mentes que se acalmam depois da dose de adrenalina
Indiferente ele(a) foi... posto(a) de frente a sentimentos evidentes nada fez
Tocado(a) com sutileza e graça nada fez, fitado(a) e agraciado(a) por palavras nada fez
Luta tanto mas nada vence, quando tudo parece estar certo, palpável

Tudo se esvai... a situação se reconfigura, e não há mais troca de olhares
Não há mais toques demorados, não há mais evidencias materiais
Tudo que resta é o espírito... pois a mente está debilitada pela falta de comunicação
O corpo se mostra fraco e vulnerável

Golpes que não deixam marcas, gestos que não provocam reações
Lutas que não há vencedor nem perdedor, que não há empate nem equilíbrio
Indiferença é criada, por não ter abertura e honestidade
Jogado ao vento o momento se esvai, deixando incertezas e desilusões

Nada sabe aquele que nada fala
Nada sabe aquele que nada partilha
Nada sabe aquele que nunca age
Nada sabe aquele que hesita

Só saberá pois aquele que um dia abrir o espírito
Se mostrar de peito aberto com a mente livre de perplexidade
Só será mostrada a verdade à aquele que deixar o seu espírito transcender
E só assim, o vazio que existe será bem usado em sua função

Assim se fará completo e sem buracos
Sem lacunas pequenas, sem breves momentos
Extenso e eterno, durável e aproveitado
Assim será o dia, em que o fulgor do espírito for liberado.


Mais uma da fase poesia prosástica, era minha preferida na época.